sábado, 25 de fevereiro de 2012

Calmaria


Ilustração de Milo Manara


Tinha que acalmar, um dia tinha que acalmar, não podia continuar assim a vida toda, durante toda vida.
Overture.
Festa meio chata, lugar meio longe, som meio ruim, gente meio estranha. três da manhã . Chega.
Tenta pegar um taxi , pensa - não falta mais nada. Começa a chover.
Espera horas, surge o cara de calça laranja, e camisa rosa com uma caveira no meio. O mesmo menino de calça laranja e camisa rosa que dançava animado na pista mesmo quando tocava música ruim.
- Vamos dividir um táxi?
Chovendo, num lugar meio longe, topa-se dividir quase tudo.
Chega um táxi, mais precisamente um chevette de duas portas. A dupla encharcada entra. Impressão minha ou dá para ver o chão através dos buracos do piso?
O bico do meu peito já parecia o termômetro do peru sadia. Duro quase pulando para fora do vestido azul e branco.
-Vai para onde moreninha?
- Lapa.
- Mais farra?
- Moro lá. (Secamente sem espaço para replica.)
Não é porque a pessoa está ali em um chevette de duas portas, longe de casa, tremendo de frio, com o bico do peito quase pulando, que vai dar conversinha para um ser que sai de casa com uma combinação de cores daquela.
-Quanto?
-Setenta reais. Disse o motorista da limusine.
- Longe é um lugar que existe. Pensou a jovem dama
- Chopp? Insistiu o menino de camisa rosa
-  Para encerrar essa belíssima noite?
Entramos no bar, conversa vai e vem.
-  E você mora onde?
-  Cerca de dois quarteirões de onde era a festa.
-  Hein?
-  Fiquei curioso com a moça de vestidinho azul e branco.
Finalmente entendi a expressão sorriso amarelo.
-  E agora?
-  Agora o mínimo que a senhorita poderia fazer era me oferecer um sofá na sala ou com sorte, uma cama no quarto.
-  Vamos ver como anda a sua sorte.
Claro que foi cama no quarto.
Aí que se deu o fato, ficamos viciados um no outro.
Aquela conversa de sempre
- Vou tomar um banho, fica a vontade, tem vodca no congelador.
- Vou com você, já estou, prefiro não beber mais para poder te comer melhor.
Sorte o box do meu banheiro é grande.
Todo íntimo foi passando a esponja por minhas costas, se encaixou ali por trás entre águas e espuma. Esfregou peitos e buceta, como se deles fosse dono.
Na minha mão entre espumas e águas o pau dele crescendo. A mão dele desce e fica brincando no meio das minhas pernas, o dedo maior entra e sai da minha buceta ou então dá voltas lentas em torno do clítoris.
Vontade de ter esse homem dentro de mim nesse momento.
Obrigada Nossa Senhora da Camisinha e Nossa Senhora Que Me Dá Dinheiro Para Eu Morar Sozinha.
O pau dele já tão duro, e eu tão excitada que poderia gozar só cruzando minhas pernas. Sentei de uma vez sobre ele
Sabe quando você sabe que fez uma coisa muito certa. Sabe aquele sorriso que a gente dá quando emerge da água fria de um rio? O corpo tremendo de frio e o sangue correndo quente?
Montar naquele homem foi uma das coisas mais certas que eu já fiz na vida.
Ficar ali naquele galope manso até ele arquear o corpo atingido por isso que o povo chama de gozo.
A pessoa pode desidratar de tanto fuder? Pergunto isso por causa de perda de líquidos e fluídos.
Ele montar em mim também foi bem acertadinho. Naquele dia trepamos quase dois dias seguidos.
Pulamos as fases do namoro, aquelas de comprar calcinha nova, de conversas bobas, de jogos de sedução.
Viciados.
Era chegar junto  e não se contentar até se misturar um no outro. Vestidos largos fáceis de tirar, calça sem cinto, sapato sem cadarço, cópias da chave.
Cinema nem pensar. No escuro sem querer minha mão encontrava o pau dele e acariciava displicentemente, como quem faz cachos no próprio cabelo, achava lindo o pau dele ficar duro dentro da calça apertada e ele morder a boca como quem sente dor, tentando se concentrar no drama psicológico na tela. Depois de sairmos correndo de uns 5 ou 6 filmes desistimos de cinemas e locais públicos.
Noite toda, toda noite. Como quem tem sede. Do enroscamento das línguas para o enroscamento das pernas. A gente se beijava como quem suga do outro o ar, os corpos tinham marcas, dentadas, arranhões. A vontade que não passava nunca. 
Um dia passou, foi numa segunda, ou quinta-feira.
Ele chegou e dormimos, o cheiro do sexo entranhado em todos os cantos da casa nos acalentou. Dormimos.
Acordamos felizes e satisfeitos um do outro.