segunda-feira, 27 de maio de 2013

Boa semana


                                                                              Ilustração de Guido Crepax


Existem poucas coisas tão boas quanto acordar com ele dizendo no meu ouvido – vou gozar. Dito assim, quase sem falar. Dito ou pensado? Ele me pede ou me avisa? O peso, o encaixe, o suspiro, a quase morte. A ilusão de que por um segundo somos um só. Gozar com um outro exige cumplicidade, o sexo é uma brincadeira, jogo de dupla, as vezes mais de uma dupla.  Não estou falando de amor, nem de para sempres, nem de ilusões e projeções de uma vida futura. Estou falando daquela meia hora, dentro do quarto, ou qualquer outro ambiente que tenha a mesma função, daqueles instantes que sua atenção esta no seu corpo, nos seus desejos e nos dele. Instintos básicos, brincadeiras, pequenas marcas deixadas.  Uns falam de um ringue, de uma batalha, um duelo, eu encaro como uma dança, um pas de deux, não tem vencedor, um está ali para o outro. Uma forma de oração, um mantra. Dura pouco e alegra um dia, ou um mês se você tiver sorte. Uma trepada boa, realinha os chakras e organiza os pensamentos, coloca os problemas em seus devidos tamanhos. Gozar ainda é a melhor diversão. Boa semana para todos. A minha parece que vai ser bem legal.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Pesca Mortal





É sempre poética a imagem da femea que sai na noite, toda arrumada a procura de uma boa trepada. Enfeita-se, depila-se em lugares nunca dantes navegados, calcinhas de renda, maquiagem nas imperfeições e coisa e tal. Mas na vida real se dá quase que uma pesca mortal, sim por que a noite é um mar de possibilidades. Depois de um tempo já tendo trepado a quantidade de vezes que trepei, não é em qualquer mar que consigo um bom pescado. Depois de um tempo você já conhece as marés e onde vale a pena jogar a rede. Algumas vezes a vontade de trepar é tanta que qualquer sardinha vira salmão, foi o caso.
Noite destas, assim toda pronta, parti para mais um episódio de pesca mortal. Um bar, uma festa, uma roda de samba e nada de aparecer uma presa, final de noite perto de casa vamos ver se a sorte nos ajuda. Ajudou. Enfim, como falei antes, na hora da fome arroz com ovo é risoto.  Foi assim dessas trepadas média, tipo nota 7. Sim eu dou nota e não se façam de inocentes porque todo mundo faz isso. Achei estranho ele esperar o dia clarear, achei estranho ele pedir uma caneta, achei estranho ele escrever frases estranhas e desconexas sobre a noite, sobre a troca de olhares, sobre uma certa buceta muito molhada, sobre um pau encontrando um refúgio. Achei ruim quando a tinta da caneta acabou e ele pegou um marcador de cds, fez desenhos delicados. Uma hora colocou dois dedos na minha buceta, ficou massageando, brincando, depois tirou e começou a descrever sobre cheiros. Me comeu mais uma vez. Ficamos os dois carimbados da noite. Foi embora. Acontece, uma trepada nota 7 em evolução pode virar 10 em criatividade.
PS. Alguém sabe como remover marcador de cd do corpo?

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Certa manhã acordei de sonhos tranquilos



   
 
          Ilustração: Milo Manara           
   Já falei que eu sonho pouco, quase nunca. Algumas vezes uma única imagem aparece, um mar, uma cachoeira, céu azul intenso com poucas nuvens. Em momentos mais inspirados mergulho em um rio tranquilo, caminho por uma floresta e só. Nada de aventuras quixotescas, premonições ou romances elaborados. Mas ontem foi estranho. Talvez tenha sido o calor, 40 graus oficialmente, 45 no sentimento.
        A primeira sensação era de uma espécie de colchão de água, onde eu estava presa, grudada. Pensei no homem aranha, depois eu percebi que a textura era macia, úmida, em alguns momentos um pouco rascante, tudo se mexia. Percebi que eram bocas, línguas de todos os formatos e tamanhos. Estava deitada numa nuvem de bocas e línguas.
Umas sussurram Bukowski ao meu ouvido, outra imensa entrava e saia da minha buceta, outra lambia carinhosamente a parte de trás do meu joelho.  No instante primeiro pensei que deveria sair dali, no instante segundo, logo após o primeiro gozo, achei melhor ficar. Uma das bocas mordia com raiva o bico do peito direito, outra sugava o leite doce azedo do esquerdo. Ouvia música, ouvia muita sacanagem. Nenhum beijo. Sabe quando o mar está calmo e você consegue boiar por horas, agora imagine esta sensação com bocas generosas chupando e mordendo tudo que em você pode ser chupado e mordido.
Veio um tremor, como se eu estivesse caindo. Acordo com a luz do dia invadindo o quarto pequeno e ele mergulhado na minha buceta, a barba mal feita arranha as coxas. Um boca e uma língua só. Fecho os olhos e peço um beijo.