terça-feira, 28 de junho de 2011

Do verbo trair

Só considero traição quando tem mentira envolvida, quando não há uma prévia negociação entre as partes, quando o outro tenta enganar até ele mesmo, dizendo que aquilo lá não é nada. Mentira é traição. Quando é só um passeio por outra boca, uma saída da dieta, um entendimento rápido entre dois corpos, não é traição. Isso se dá comigo. Meu corpo tem o hábito de se encaixar em outros só por curiosidade.
Amo sim. Amo de fato. Amo a segurança que ele tem, amo o trabalho fixo dele, amo os horários corretos, o mesmo perfume, a gaveta organizada por cores, a barba bem feita, a corrida de 10 quilômetros todo dia, a trepada certeira, a paciência. Amo o jeito que ele segura meus peitos e começa a chupar sempre o da direita primeiro. Amo o almoço de domingo seguido de sobremesa e trepada no sofá. Acontece é  que antes dele aprendi a amar a noite e seus predicados. Adoro o cheiro de bebida e mofo que alguns lugares tem, gosto das possibilidades, gosto de sair sem hora.  Gosto de saber que ele me espera. Saio. Mergulho nessas noites, cachaça, garçons conhecidos, músicas que eu sei a letra, sorrisos, paqueras, já estou dançando há horas com este de camisa azul, cachaça. Um pau duro ralando nas minhas coxas, uma mulher me faz promessas, eu aceito, faço juras. Minha música favorita da última semana está tocando. O mundo acaba daqui a pouco.
Certo ele estar me esperando, certo que vou dar para ele. Certo. Cachaça. Tem uma mão no meu decote, o cheiro de cigarro, carpete nas paredes, o mundo acaba agora. Beijo intensamente um homem com camisa de listras brancas e pretas, faço de conta que é uma homenagem ao botafogo. Estrela solitária.
Certo ele já dormiu. Acho que esse motorista de taxi já me conhece. - Boa noite senhor. – Bom dia senhora.
Certo que ele deve estar puto.
Abrir a porta com cuidado. Banho de horas. Sai uma água escura do meu cabelo um cheiro insuportável de charuto, cigarro de bali e maconha. Não tem cepacol que tire esse bafo de cachaça.
Deito na cama devagar, cheirando a Lavanda Johnson's. Ele nem se mexe. A raiva é um negócio chato danado. Fico de frente para ele, vou descendo a mão para o pau, se o sangue descer para o pau a raiva passa, é uma teoria que eu tenho. Vou acariciando o meu velho amigo, sentindo ele crescer na minha mão, claro que a raiva vai passar. Vou dar tanto para ele. O pau ficando duro, a respiração dele acelerando. Agora as mãos dele seguram na minha cintura, me empurra com força, sai da cama, bate a porta.
Hoje não vai rolar nada. É certo.

Um comentário:

  1. achei lindo aquele da metade. "se éraos dois, porque sinto que metade de mim foi embora". ou algo do tipo. pena que tirou. deve ter seus motivos.

    estou apaixonada pelo blog. parabéns

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