sábado, 29 de dezembro de 2012

Entreatos



                             Eros e Psique



Uma besteira, um pequeno vacilo, um leve acidente, uma rápida cirurgia, resultado três longos meses sem andar. Sem andar, sem me locomover, parada, paradinha. Três imensos meses sem fuder.  Sim existem os vibradores, sim existe a masturbação, mas as dores permitiam pouca criatividade e nenhum desejo.
Restabelecida, vamos ao que importa.
Não estava com paciência para jogos, conversinhas bestas sobre coisa nenhuma, ou pior ainda, dar muito mais do que receber. Eu estava com fome, fome ancestral. Pensei em uma suruba, pensei em ligar para vários amigos. Mas eu não queria a la Carte eu queria um rodízio, eu queria ser servida incessantemente, eu queria um profissional. 
É um serviço complicado, não é como pedir uma pizza, uma escova no cabelo ou fazer uma compra pela internet, envolve algo mais profundo, digamos assim. Envolve medos e riscos.
Conheci Ele em um dia triste, no dia que um jovem rapaz me mandou ser feliz com outro alguém. Eu chorava tanto que tive que tomar soro para reidratar. Estava na Adega Pérola tomando uma cachaça e usando o pano de balcão como lenço quando Ele chegou. Chora não moça, arranja outro.
-       Tem outro não moço, nunca mais vai ter outro (abestalhada)
-       Vai sim.
-       Como você sabe que estou chorando por causa de homem?
-       O soluçar é característico, eu cuido muito de casos assim.
-       Você é terapeuta?
-       Faço programa.
-       Hein?
-       Sou garoto, no caso, senhor de programa.
Pense numa pessoa cujas lágrimas secaram em 1 segundo.
-       No caso, a gente paga para dar para o senhor?
-       Não, você paga para que eu te coma e te faça gozar como nunca.
-       Moço, estou com tanta dor no meu coração que nem vontade de fuder eu tenho.
5 cachaças depois ele me convenceu do contrário, e me deu uma amostra grátis do seu trabalho, podemos dizer assim. Claro que viramos amigos, vocês sabem que bons profissionais são difíceis de achar. Que pena que o plano de saúde não faça cobertura desse tipo de atendimento.
Ele, chegou aqui na cidade há 6 anos, veio de tão longe que nem tinha no mapa o longe que era. Veio atrás de uma moça que disse para ele que aqui era o lugar onde tudo acontecia. Trouxe o que tinha, o que não tinha deixou. Na partida ficaram tristes apenas umas duas primas, uma tia mais velha, a viúva da rua de cima, a viúva da rua de baixo, o sacristão e dizem que  uma cabritinha ficou dias olhando para a estrada com olhar entristecido. Chegou e foi tudo bom, no primeiro mês. No segundo o amor foi acabando, junto com o dinheiro. No terceiro o sexo foi rareando, no quarto mês ela foi muito sincera e mandou ele embora.
Ele sempre foi bom de conta, pelas contas dele não ia sobreviver na cidade e voltar para a cabritinha não era um bom projeto. Se fez valer do único talento que tinha. Era um talento que duro media exatamente 22,5 centímetros (Eu medi).  Viveu do talento dele durante uns anos, foi se entendendo na cidade, foi percebendo que só o talento não basta e foi aprumando a vida. Resumo,  virou gerente de banco, o talento maior guarda para ocasiões especiais. Considerei meu caso uma ocasião especial. Era dele que eu precisava.  
Ensaiei o texto antes de telefonar, um medinho bateu, em caso de insatisfação que Procon iria me reembolsar? Que orgão público recorrer? Órgão no sentido de instituição.
Marcado, valor acertado. Tudo certo. Certo?
Os preparativos de sempre, resolvi inovar depilação completa. (Conselho para as amigas, pensem bem antes de fazer, os grande lábios ficam em chamas).
Chegou na hora, Motel perto de casa. Vinho para acalmar.
Pouco antes de tirar minha roupa em apenas um segundo ele disse
- Aqui quem precisa agradar sou eu, você relaxa e aproveita.
Agora me diga se a pessoa relaxa numa situação dessas?
Talento é tudo, já fui chupada antes, como todos nós sabemos, mas deste jeito nunca, com este conhecimento de causa? Com esta vontade de me fazer feliz? Aquela boca no meu peito, no peito que há meses não sabia o que era uma boca, e aquela boca na minha boca? Os dedos dele tateando a minha buceta como que preparando o caminho para o que vinha. Nunca fui tão egoísta na minha vida, só pensei em mim e fui feliz. Profissionalismo é tudo. O famoso pau de 22,5 centímetros mostrou a que veio, incansável foi entrando e se fazendo em casa. Primeiro só aquela cabeça imensa e quase roxa massageando o clitóris, depois forçando a entrada, eu zonzinha pedindo pelo amor de Zeus para não parar. O pau inteiro dentro de mim saindo e entrando de acordo com a minha vontade.  Preocupado, escolheu as posições mais confortáveis, foi generoso, foi atento. Foi foda. Ele gozou tranquilamente enquanto eu ouvia um zumbido como num porre de lança-perfume. No final do terceiro ou quarto gozo pensei que este serviço deveria ser oferecido pelo estado. Viúvos e viúvas, pessoas solitárias,  pessoas com dificuldade de locomoção, tímidos em geral, tipo um bolsa-trepada.
É estranho não ter conversa, estranho não ter "beijo, me liga", mas é bom não ter mentiras. É bom ser prático.
Felicidade não se compra, fato. Mas podemos alugar momentos felizes.

4 comentários:

Sempre me interessa o que pensas.