segunda-feira, 29 de abril de 2013

Certa manhã acordei de sonhos tranquilos



   
 
          Ilustração: Milo Manara           
   Já falei que eu sonho pouco, quase nunca. Algumas vezes uma única imagem aparece, um mar, uma cachoeira, céu azul intenso com poucas nuvens. Em momentos mais inspirados mergulho em um rio tranquilo, caminho por uma floresta e só. Nada de aventuras quixotescas, premonições ou romances elaborados. Mas ontem foi estranho. Talvez tenha sido o calor, 40 graus oficialmente, 45 no sentimento.
        A primeira sensação era de uma espécie de colchão de água, onde eu estava presa, grudada. Pensei no homem aranha, depois eu percebi que a textura era macia, úmida, em alguns momentos um pouco rascante, tudo se mexia. Percebi que eram bocas, línguas de todos os formatos e tamanhos. Estava deitada numa nuvem de bocas e línguas.
Umas sussurram Bukowski ao meu ouvido, outra imensa entrava e saia da minha buceta, outra lambia carinhosamente a parte de trás do meu joelho.  No instante primeiro pensei que deveria sair dali, no instante segundo, logo após o primeiro gozo, achei melhor ficar. Uma das bocas mordia com raiva o bico do peito direito, outra sugava o leite doce azedo do esquerdo. Ouvia música, ouvia muita sacanagem. Nenhum beijo. Sabe quando o mar está calmo e você consegue boiar por horas, agora imagine esta sensação com bocas generosas chupando e mordendo tudo que em você pode ser chupado e mordido.
Veio um tremor, como se eu estivesse caindo. Acordo com a luz do dia invadindo o quarto pequeno e ele mergulhado na minha buceta, a barba mal feita arranha as coxas. Um boca e uma língua só. Fecho os olhos e peço um beijo.

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